quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Flerte com a queda

Não sinto falta do passado. 
Olhava pras coisas como se fossem novas, como se fossem belas. Sofria daquela depressão tola de garota de 16 anos. Escrever de mais e pensar de menos.
Nada parece novo ou belo agora. Era belo porque era banal e inalcançável ao mesmo tempo. Era o que todos os outros conseguiam facilmente. Todos, menos quem escrevia.
Alguns vivem, outros escrevem. (Alguns vivem e escrevem, desses tenho inveja.)
Agora só é banal e inalcançável, não é belo. 
Porque quando se tem 16 anos, há o direito implícito de se sentir injustiçado, traído. A beleza residia nesse direito. Quando se é adulto, a culpa da injustiça é de ninguém,  apenas sua.  E é uma culpa feia, que anda lado a lado com a vergonha.
Então se cria a máscara para esconder a vergonha. Para sufocar a culpa. 
E se desfila sem rumo.
Escrevo porque a culpa é minha. Inteiramente minha.
Mas não, não sinto falta do passado.

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